sexta-feira, 26 de junho de 2009


Trancar o dedo numa porta dói.Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói.Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.Mas o que mais dói é a saudade.Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância.Saudade de um filho que estuda fora. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas.Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ele para a faculdade, mas sabiam-se onde.Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupado;se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ele aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo Malzbier; se ele continua preferindo Margarita;se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;se ele continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; se ele continua cantando tão bem; se ele continua detestando o Mc Donald's; Se ele continua amando; Se ele continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo!